Não há quem não feche os olhos ao cantar a sua música favorita. Não há
quem não feche os olhos ao beijar, não há quem não feche os olhos ao
abraçar. Fechamos os olhos para garantir a memória da memória. É ali que
a vida entra e perdura, naquela
escuridão mínima, no avesso das pálpebras. Concentramo-nos para segurar a
dispersão, para segurar a barca ao calor do remo. O rosto é uma
estrutura perfeita do silêncio. Os cílios se mexem como pedais da
memória. Experimenta-se uma vez mais aquilo que não era possível. Viver é
boiar, recordar é nadar.
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